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Resenha de Abelhas sem teto e outras crônicas - Vany GrizanteConstato aqui o prazer de ter saboreado nesses dias passados um livro dos mais gostosos. Tratam-se das crônicas da escritora Vany Grizante. Estão reunidas sob o título: Abelhas sem teto e outras crônicas. Foram publicadas através da All Print Editora, no ano de 2010, em São Paulo. Tive, por ocasião do Natal, a graça de ser pela autora presenteado com um exemplar desta sua obra.
Quem sabe uma boa definição de cronista seja algo como: Cronista é aquele que consegue extrair do banal cotidiano a sutil beleza encerrada no seu interior. Sem a sua ação essa riqueza permaneceria oculta aos, como eu, comuns mortais.
Cronista, numa nova tentativa de defini-lo, seria aquele ser dotado de sensiblidade para captar a poesia oculta, no concreto feio e frio, do dia a dia das grandes cidades. Desse material bruto esses artistas são capazes de extrair belos e cativantes relatos. É assim a crônica de Vany Grizante.
Numa delas tomaremos conhecimento de “tese instantânea e perigosa de uma pequena senhora”. Esta lhe escreve num pedaço de papel que “Deus protege os irresponsáveis.” A partir daí navegamos por mares agradáveis da sua narração.
Permitindo-me discordar do perigo de tal hipótese, eis que Deus está sempre a nos proteger e que levante a mão aquele que se sinta realmente responsável com a vida, em todas as suas dimensões. Ou seja, proteje-nos da irresponsabilidade, ampla e irrestrita, de não conseguirmos, pelo menos, construir uma sociedade mais justa e bonita.
Noutra historinha suas mãos estão a nos conduzir pelos meandros do Mercado Municipal do seu bairro. Por lá saboreia pedaços soltos e que não compõem sentido completo de diálogos à sua volta, empenhada em achar motivo para uma crônica. Vai assim até que chega – sempre ela à espreita - a frustração. E será então a simples e gostosa passoquinha, a redentora responsável por salvar o passeio e nos fazer ouvir tantos múrmúrios, enquanto degustamos, com ela, imaginário amendoim moído.
E por assim caminham as histórias. Geralmente bem humoradas, mas levando-nos à reflexão de temas que a princípio podem parecer meio rasos, como num primeiro momento essas crônicas parecem sugerir. A sutileza de tratar coisa séria com a leveza de quem domina profundamente o manuseio das palavras é característica de Vany.
Ambientadas na São Paulo, a cidade imensa e impessoal é percrustrada por olhos profissionais da arquiteta que os humaniza. Ao encontrar seu tema ela, como a profissional que sabe criar espaços confortáveis e bonitos para nossas vidas, torna-se geradora de espaços mentais agradáveis para o nosso deleite.
Recomendar a leitura de Abelhas sem teto e outras crônicas é mais do que necessário. Solicitar à autora que coloque mão na massa para nos brindar com novas crônicas, é o pedido que lhe faço ao terminar esta resenha. Seus leitores não podem continuar, tais como as abelhas, sem o teto protetor sob o qual haverá a mesa da partilha de novas crônicas.Este texto faz parte do Exercício Criativo - Resenhas do Amigo OcultoSaiba mais, conheça os outros textos:http://encantodasletras.50webs.com/resenha2012.htm
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 18/03/2013
Alterado em 18/03/2013
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