Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Jesus nos quer atentos à vida. Liturgia da Missa - Reflexão sobre a Mesa da Palavra para o 19 Domingo do Tempo Comum – Ano C

“Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o reino. Vendei vossos bens e daí esmola. Fazei bolsas que não se estrageuem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói. Porque, onde est[a o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento, para lhe abrirem, imediatamente, a porta, logo que ele chegar e bater. Felizes os empregados que o senhor encontrar acordados quando chegar. Em verdade eu vos digo: Ele mesmo vai cingir-se, fazê-los sentar-se à mesa e, passando, os servirá. E caso ele chegue à meia-noite ou às três da madrugada, felizes serão, se assim os encontrar! Mas ficai certos: se o dono da casa soubesse a hora em que o ladrão iria chegar, não deixaria que arrombasse a sua casa. Vós também ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes'. Então Pedro disse: “Senhor, tu contas esta parábola para nós ou para todos? “ E o Senhor respondeu: “Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor vai colocar à frente do pessoal de sua casa para dar comida a todos na hora certa? Feliz o empregado que o patrão, ao chegar, encontrar agindo assim! Em verdade eu vos digo, o senhor lhe confiará a administração de todos os seus bens. Porém, se aquele empregado pensar: ‘Meu patrão está demorando e começar a espancar os criados e as criadas, e a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele empregado chegará num dia inesperado e numa hora imprevista, ele o partirá ao meio e o fará participar do destino dos infiéis. Aquele empregado que, conhecendo a vontade do senhor, nada preparou nem agiu conforme a sua vontade, será chicoteado muitas vezes. Porém, o empregado que não conhecia essa vontade e fez coisas que merecem castigo será chicoteado poucas vezes. A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!” Lc 12, 32-48

Era uma vez um dorminhoco. Um homem que seguia dormindo pela vida. As coisas aconteciam e ele não reparava. Apesar de ter os olhos abertos era incapaz de perceber a realidade. Não via as pessoas necessitadas e muito menos percebia Deus naqueles que estavam à sua volta. Como a vida é rápida, ela passou e ele nem viu.

O Evangelho deste domingo vem nos falar da atenção que devemos ter com a vida. Do cuidado que precisamos tomar nas escolhas que fazemos, para que não coloquemos o futuro a perder, deixando-o onde “o ladrão chega e a traça corrói".

Há duas opções de texto e geralmente, pelo menos na minha experiência, acaba se optando pelo mais curto (Lc. 12, 35-40), o que é uma pena, pois se perde um início de muito carinho de Jesus para conosco e um final com parábolas bastante significativas, principalmente para nós os leigos.

Jesus começa nos animando e encorajando para não termos medo. O medo é terrível, pois que pode nos fazer fugir, ficar paralisados, ou até mesmo a nos levar a agir com violência. E vem Jesus e nos anima para que não tenhamos medo e nos dá um motivo para isto: que a gente não tenha medo porque o Pai nos dá o reino. O fato de vivermos no regime republicano, faz com que tenhamos um pouco de dificuldade em entender a profundidade dessa expressão.

Somos donos do reino. Dito com outras palavras seria o mesmo que afirmar que somos "reis e rainhas". Aliás, nenhuma novidade, já que somos filhos de Deus... Por isto, Ele nos diz que o Senhor nos servirá à mesa, eis que viveremos no seio da sua família.

E Jesus continua de modo bem afetivo a sua conversa, nos qualificando como “pequenino rebanho”. Verdade que não somos mais um pequeno rebanho. Os seguidores de Jesus somos cerca de um terço da humanidade, mas é certo também que não constituímos ainda o grande rebanho sonhado de Jesus e convenhamos que nesse rebanho que já somos, mesmo não sendo nada miúdo, ainda falta uma maior atenção e cuidado da nossa parte.

Diz-nos também que precisamos estar atentos ao “lugar” onde colocamos o coração. O mundo oferece muitos tipos de “hospedagens” para ele e pode ser que o tenhamos posto em algum local de fantasia. São locais que até parecem interessantes e bonitos, mas que não são capazes de preenchê-lo. Só Ele é capaz disto.

Vivemos desatentos no mundo. Se no tempo de Jesus já se ficava sem atenção e não havia tanto estímulo assim à volta, o que diremos de hoje em dia, quando somos bombardeados ininterruptamente por mil novidades? E em meio a tantas coisas acabamos por não prestar atenção naquilo que nos é mais necessário. Passamos de uma coisa a outra como o colibri voa de flor em flor. É como se vivêssemos a maior parte do tempo caminhando pelo mundo adormecidos e isto apesar de mantermos os olhos abertos, como o homem desligado da historinha de hoje.

Jesus nos alerta para ficarmos acordados com os olhos, a mente e coração. Ou seja, inteiramente despertos. Viver é estar de prontidão e, poderíamos dizer, “com a roupa adequada para a viagem, o carro revisado e o tanque cheio”. A todo o momento vivemos exemplos, uns distantes, outros mais próximos, do quão frágil é a vida.

Não importa a hora que chegue em casa. Ao colocar a chave para abrir o portão, lá da rua, já escuto o alarido dos cachorros vindo me acolherem. Isto é para mim um belo exemplo do que significa se estar em prontidão.

Recebemos muito do Senhor. Num mundo de tanta miséria nós somos bastante privilegiados. O fato de estarmos diante do computador é prova disso, mas Jesus não quer nos falar apenas em questões de possuir coisas, ou termos tido acesso à educação.

Ele vai muito mais longe. A questão é o que estamos fazendo com a vida toda. Por isto é para nós mais um motivo de grande atenção o final do Evangelho: “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido”.

O autor da Carta aos Hebreus nos oferece na segunda leitura uma bela e profunda definição de fé. Vale pararmos e refletirmos sobre ela: “A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se vêem”. Nossos tempos são de muita fé no efêmero, de se colocar como finalidade aquilo que é relativo.

Pontos para reflexão:

- Qual é o meu tesouro, onde tenho colocado o meu “coração”?

- O que tenho retribuído do muito que me foi dado?

- Como alimento a minha fé?


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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 04/08/2013
Alterado em 07/08/2022


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