Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Finados, o Pai bondoso acolhe seus filhos, nossos irmãos queridos, em seu colo infinito do Amor - Reflexões para a Mesa da Palavra 

Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, e Jesus começou a ensiná-los: "Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus. Mt, 5, 1-12a

Lagartas de diversos tamanhos e idades residiam naquele bonito jardim. A manhã nem chegara quando as mais novinhas notaram que suas irmãs mais velhas estavam vivendo em casulos. Acharam gozado aquilo e continuaram convivendo com elas, mesmo tendo se tornado tão estranhas. Contavam casos, riam, brincavam e até tratavam das coisas sérias da família. Num dia da primavera as folhas pareciam ainda mais apetitosas e foi então que essas jovens comeram mais do que deviam. Com as barrigas estufadas dormiram. Sofreram pesadelos e não ouviram o despertador tocar. Perderam a hora. Ao despertar tiveram outra surpresa. Os casulos estavam vazios. Suas irmãs haviam morrido. Choraram, colheram flores enfeitando os casulos e no final da tarde fizeram o enterro. As borboletas, assistindo a tudo lá do alto, não conseguiam compreender o porquê de tanta tristeza.

“Lázaro, vem para fora!” Assim contemplamos Jesus, na cena do Evangelho no qual o Senhor, diante do seu amigo morto em Betânia. O Senhor, envolto em toda a tristeza causada pela partida do amigo, o chama para que deixe a sepultura.

Certamente que este é também o apelo que cada um de nós gostaria de fazer diante de tumbas das pessoas queridas. Fato é que podemos até tê-lo feito em algum momento, mas sem resultados perceptíveis aos sentidos.

Que não se fique surpreso pela falta de resposta a esse tipo de chamado. Eles não nos respondem, por mais fé que possamos ter ao convocá-los, porque já ouviram esse convite de alguém muito especial e com toda certeza o atenderam.

O próprio Cristo os chamou, ou nos esquecemos que Ele é o Bom Pastor que sabe cuidar das suas ovelhas? Do escuro no qual os colocamos eles logo saíram para se colocar diante da luz infinita de Amor da Trindade Santa.

Um dia após a festa de Todos os Santos celebramos nossos mortos. Não seria esta uma única festa em dois dias consecutivos? Parece que sim. Afinal, como vimos ontem, todos somos santos, eis que santo é também todo aquele que é de Deus e busca fazer sua vontade.

Nossos entes queridos fizeram o bem, que é a vontade do Pai e por isto se inserem nessa condição. Mesmo que, por uma série de motivos, não tenham tido acesso ao seguimento explícito de Jesus. Importa que tenham amado, pois esta é a medida através da qual seremos notados na eternidade.

Finados é dia em que os cemitérios estão cheios com as homenagens que muitos vão prestar para seus mortos. É bonito ver esses tributos, mas importa também reparar que nossas “lagartas” já se tornaram eternas e lindas borboletas, tendo voado rumo ao colo do Pai.

A casca que nos deixaram (cinzas em pequenas urnas e ossos nas sepulturas) nos remete a eles, mas há que se reverenciá-los não só nessa situação, mas principalmente nos exemplos, momentos alegres de convivência, carinho e afeto. Da mesma forma que há cristão que parece só ter olhos para o Jesus da paixão e morte, há pessoas que parecem se ligar apenas nos últimos momentos dos seus amados.

É possível que no momento em que um ente querido partiu, ele não estivesse trajando a “roupa de festa” adequada para se postar diante de Deus. Mesmo assim, de forma alguma Papai Deus o irá expulsar (dá para imaginar um Pai todo Amor que expulse seu filho de perto?), mas porque é ele que se sente mal com aquela “veste” suja ou rasgada, que opta por se afastar para uma purificação, costurar roupas novas e voltar bonito e preparado à festa da presença amorosa do Criador. É dessa forma que precisamos compreender o sentido do purgatório.

O inferno, diante do Amor infinito de Deus deve ser considerado como uma possibilidade. Afinal se há o bem absoluto e somos criados na liberdade, existirá obviamente a probabilidade da não aceitação da bondade total. É verdade que há que se ser muito bruto e ignorante para negar plenamente o Amor e a Misericórdia infinitas.

E pensando bem, mesmo com toda bruteza e ignorância, negar o bem total é loucura. Dá para imaginar também alguém em sã consciência a dizer não para a bondade e misericórdia infinita? Só algum louco agirá assim e, se é doido, não terá cometido nenhum pecado, estando também no colo do Papai Deus.

O dia de finados é tempo propício para meditarmos sobre a ressurreição. Dia para se tomar mais consciência do céu como nosso fim e do inferno como possibilidade. A verdade é que somos todos, a partir do momento no qual fomos gerados, “condenados” à eternidade. Nesse futuro que não mais se acabará o céu da bondade e acolhimento de Deus é o destino para o qual seguimos.

Para ajudar nossa reflexão

- Em cada missa recito que “creio na ressurreição dos mortos”. Como essa crença vai se refletindo na minha realidade?



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Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 01/11/2013
Alterado em 02/11/2022


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