Os chefes zombavam de Jesus dizendo: 'A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Escolhido!' Os soldados também caçoavam dele; aproximavam-se, ofereciam-lhe vinagre, e diziam: 'Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!' Acima dele havia um letreiro: 'Este é o Rei dos Judeus.' Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo: 'Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!' Mas o outro o repreendeu, dizendo: 'Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma condenação? Para nós, é justo, porque estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal.' E acrescentou: 'Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado.' Jesus lhe respondeu: 'Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso.' Lc 23,35-43
“Mamãe, o que é um rei?” Nascida e sendo criada no regime republicano a criança sentia dificuldade em entender o sentido básico da realeza. A explicação da mãe foi bem direta e clara: “Rei é aquele que vive para servir o seu povo”.
A festa de hoje encerra o Ano Litúrgico. Ela é recente na Igreja. Foi instituída pelo papa Pio XI na década de 30 do Século passado. Não há a menor dúvida de que para os oriundos de países com regime monárquico, faz muito mais sentido a figura de um rei do que para os brasileiros.
Para nós esta é uma realidade que se coloca um tanto distante, mais conhecida a partir da literatura e dos meios de comunicação, como há pouco aconteceu com a morte da rainha inglesa e a ascenção ao trono do seu filho. Tivemos dias com todas as solenidades sendo acompanhadas, pela televisão, por grandes audiências em nosso país e pelo mundo afora.
Ao assisti-las costumam nos impressionar a pompa dos séquitos, os cuidados excessivos para que o povo seja contido e mantido a distância. Afinal reis e a sua gente são como água e óleo, duas naturezas distintas. Povo de um lado e reis de outro é o que a história das monarquias parece querer nos ensinar. Quando se misturam é por causa de alguma revolução ou escândalo.
Ao contemplarmos a festa da realeza de Jesus descobriremos que ela não tem nada desse cerimonialismo carregado de pompa e circunstância. A liturgia ajuda-nos a reparar nessas diferenças ao apresentar no Evangelho, não se trata de alguma cena na qual Jesus se mostre de forma triunfal, mas sim o seu momento mais terrível: a crucifixão.
Comparado com a primeira leitura, tirada do segundo livro de Samuel, temos esse mesmo paradoxo que sentimos ao comparar a soberania de Jesus com as realezas da humanidade. Enquanto o rei dos reis é morto numa cruz, Davi é ungido rei de Israel, por todas as tribos em Hebron.
Um ponto fundamental para se entender a realeza de Jesus é reparar que ela se dá no serviço. Ele é um Rei servidor. Nosso Senhor é aquele que não se mantém distante do seu povo. Ao contrário, está sempre rodeado de súditos. Nosso Rei cuida de todos, para cada um tem uma palavra. É um rei incrível que se posta, não na corte, mas perto dos mais empobrecidos. O Rei Jesus é amigo de ladrões, mendigos e prostitutas.
Nosso Deus acolhe todo mundo, mas manifesta um carinho todo especial pelos menores e mais excluídos. Seu séquito não tem nada de imponente. O grupo de amigos que o acompanha não é composto da nobreza, nem de pessoas importantes, gente da cultura e dona de poder.
Seguem-no pescadores e mais alguns homens e mulheres. Além deles tomam parte também de sua comitiva gente estropiada, doentes, aleijados de todo tipo, cegos e pecadores que o acompanham na busca de serem curados.
Tanta diferença daquele modelo arquetípico que temos de um verdadeiro rei. E que bom que assim o seja, pois que dessa maneira não precisamos manter distância. Nosso Rei nos chama para ficarmos bem perto dele. Quanto mais próximos estivermos, mais seremos fiéis ao chamado para nos tornarmos seus discípulos missionários.
Nosso Rei não busca glórias, busca, isto sim, salvar a sua gente – toda a humanidade - de tudo que lhe oprime e lhe faz infeliz. Ele vem pregar a justiça e a paz. Faz isto de maneira tão radical e diferente dos modelos dos reis e poderosos, que os incomoda demais e é por eles totalmente incompreendido.
Por conta dessas coisas o final da história é mais do que conhecido, O nosso Rei está coroado e no alto. A questão é que sua coroa não tem ouro e nem pedras preciosas. Ao contrário, ela lhe machuca profundamente a fronte e o couro cabeludo, pois é feita de espinhos.
Ao seu lado dois desqualificados ladrões que com Ele, em outras duas cruzes, dividem o cenário. Contemplamos o nosso Rei desse jeito. No alto, mas pregado na cruz. Mesmo assim, desfigurado e moribundo, um daqueles que com Ele sofrem o suplício, vê que no olhar e postura daquele homem há algo divino. Reconhece a realeza do Deus que está ao lado e faz a sua profissão de fé ao declarar que o aceita como seu Rei. E o nosso Rei o recebe como acolhe também a cada um de nós.
A Igreja comemora amanhã, dia 21 de novembro, o dia do leigo, o nosso dia. Nós, os leigos, precisamos nos levar mais a sério. É preciso que assumamos com mais efetividade e compromisso, o caminho que temos na Igreja e que só poderá ser desempenhado por nós.
Que o nosso Rei nos dê a coragem para tomarmos nas mãos a missão a nós confiada. Que nós todos, Igreja Povo do Rei, unidos à hierarquia, possamos continuar a obra do Reino. Amém.
Pistas para reflexão:
- Sinto que Jesus é o meu Rei? O que a sua realeza provoca na minha vida?
- Tenho assumido a minha missão de leigo? Coloco-me disponível para o serviço?
- Como seguidor do Rei que serve de que maneira tem se dado o meu serviço ao próximo?
Foto: O Cristo sorrindo do Castelo de Xavier, Espanha.
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