Jesus disse aos seus discípulos: 'A vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé. Pois nos dias, antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E eles nada perceberam até que veio o dilúvio e arrastou a todos. Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem. Dois homens estarão trabalhando no campo: um será levado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo no moinho: uma será levada e a outra será deixada. Portanto, ficai atentos! porque não sabeis em que dia virá o Senhor. Compreendei bem isso: se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. Por isso, também vós ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá. Mt 24,37-44
Havia uma mulher desempregada fazia um bom tempo. O dinheiro tinha acabado e ela gastara todo o tempo, que fora muito, do desemprego assistindo TV, conversando com as amigas, a brincar na internet e cuidando da aparência. De repente, chega-lhe uma ligação diferente. Uma empresa a chama para uma entrevista. Ela pede dinheiro emprestado, compra roupa nova, vai ao salão, embeleza-se toda para tal encontro. Na hora marcada a mulher está lá, linda. Nem se passaram cinco minutos e o entrevistador encerra a conversa. Estava claro para ele que ela não tinha se preparado para um novo trabalho. Estava bonita por fora, mas por dentro não trazia nada de interessante que pudesse animar aquela empresa a contratá-la.
Nessas semanas somos convidados a nos preparar para a vinda do Senhor. Não como a moça da nossa historinha que pensava que tinha que se arrumar só externamente para aquele encontro importante.
É preciso que nos preparemos ainda com mais ênfase, internamente, para a vinda do Salvador, o Messias. O Advento quer nos tornar mais atentos à conversão. Esse período forte na vida da Igreja é também início de novo ano litúrgico. Advento carrega em si sentido de chegada, de acolhida daquele que é tão esperado e que vai chegando até nós.
Há dois mistérios se entrelaçando nesta realidade da vinda do nosso Deus. Um que nos mostra o quanto é louco e absurdo Ele vir. O segundo, tão estupendo quanto este, refere-se à escolha que Deus faz. Não basta nascer pequeno e frágil. Ele chega, sem ser convidado, num local totalmente inadequado para a dignidade de um ser humano. Nasce, onde se guarda bichos, na periferia da periferia.
Deus se faz ser humano entre os mais pobres e é, de imediato, por eles, reconhecido. Não podemos nos esquecer de que os pastores eram grandes excluidos e empobrecidos naqueles tempos do Natal. Advento é tempo de espera, de redobrar a atenção para perceber nos sinais dos tempos, principalmente naqueles ligados aos invisíveis e excluídos, o Deus que vem para nós.
Quando está para chegar alguma visita muito aguardada a expectativa aumenta e é possível ter mudados alguns comportamentos tais como perder sono, comer mais, ou menos e até ter que conviver com a nítida impressão de que o tempo demora mais a passar. Trata-se da esperança positiva que nos faz mais atentos, “ligados”, para que a recepção da pessoa querida e muito esperada se dê da melhor maneira.
Para esta acolhida, é claro que iremos nos preparar, o que significa se perguntar que hábitos, atitudes e comportamentos não são condignos para a recepção da nossa visita tão aguardada? As outras arrumações, físicas e externas são meras conseqüências da disposição interior de acolher o Deus que vem.
É possível que Deus chegue e que não tenhamos tido tempo de nos preparar para a sua visita. Ela então, ao invés de se configurar nessa expectativa positiva, se transformará em ansiedade e temor de que o visitante reparará o descuidado para acolhê-lo. O texto do Evangelho vem nos falar também disso. Não sabemos a que horas, ou em que dia o visitante virá.
Por isto a preparação tem que se dar sempre e o Advento é aquele tempo que nos “treina” a atenção para a grande acolhida. Quando Jesus, através do evangelista Mateus, nos diz que a vinda de Deus será como nos tempos de Noé, somente quer nos reforçar e relembrar isso que já sabemos. Que não temos como prever a hora do nosso “dilúvio” pessoal. Por isto precisamos estar sempre de prontidão.
Olhando o mundo à volta constatamos essa verdade a todo instante. Quantos nesse exato momento em que vocês me lêem estão morrendo mundo afora? É para essa realidade que Jesus quer nos alertar. Cuidado aí, vocês dois que estão caminhando. De repente, uma bala perdida, um infarto, um atropelamento pode levar um de vocês e o outro ficará na terra.
Que nesse Advento possamos nos aprofundar ainda mais no sentido da vinda do Messias. Que não fiquemos na rasura de percebê-lo chegando apenas uma vez no ano, provocando repentinas emoções, aumento da solidariedade e muitas festas de confraternização.
A nossa atenção precisa se dar o ano inteiro, de maneira mais cuidadosa, de dentro para fora e não o contrário, para que o sintamos nascendo em cada dia, hora e momento da nossa vida. Amém.
Para reflexão durante a semana:
- Estou pronto para a vinda do Senhor?
- O que significa o Advento para mim? Será somente um tempo de aumento de compras, de festas e de se ser mais solidário?
- Como preparar um Natal diferente?