Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


A Cadeira 

Ah, se mamãe estivesse aqui pra me ver sentado nesta cadeira. Sentiria tanto orgulho. Com os próprios olhos, veria que seu filho chegou lá. Quantos brasileiros tinham tido a honra de se assentar ali? Menos de uma centena. E isto considerando vacâncias provocadas pelas viagens, doenças e outras questões que fizeram, ao longo do tempo, com que vices, presidentes da câmara e senado se postassem nela. E isto em cento e tantos anos de República.

Ah, se a velha soubesse que ao me assentar na cadeira presidencial, pela primeira vez, até dei umas rodadas no assento mais importante do país, como se ela fora daquelas xícaras do parque de diversões girando sobre si mesmas, deixando as crianças tontas sobre elas. Se o celular ainda tivesse bateria tiraria um self desse primeiro momento. Mas o danado deu de apagar logo agora. E, claro, não pegaria bem, pedir para a secretária, ajudantes de ordem e tanta gente que está aí fora, pra sacar esta foto minha aqui.

Meu prazer, encastelado na cadeira presidencial, não deve se tornar público. É solitário. Epa, acho que as rodadas que dei na cadeira foram somente para o lado direito. Então vamos lá, umas voltas agora para a esquerda. Afinal, é mais de esquerda esse governo e não fica bem eu ficar aqui fazendo círculos para a direita, nessa cadeira tão importante.

Vejamos como está a maciez dela. Será que as molas foram devidamente reguladas? Hummm, é gostoso me balançar nessa cadeirona tão imponente. Sim, mais macia do que isto parecerá com um boneco de mola. Desses que se empurra para baixo e o bobo permanece um tempão subindo e descendo. Está ótima a calibragem. Ideal, nem tão firme e nem tão macio o sistema de molas.

Bem, hora de me levantar. Serviço feito e muito bem feito. Tudo testado. Sem essa modéstia boba de dizer que cumpri a obrigação. Fiz muito além do normal. O trabalho ficou excelente. A presidente não poderá mais, de jeito nenhum, reclamar de que a sua cadeira está com as molas duras e fazendo barulho, quando se voltar para um lado ou outro, para falar ao telefone, ou apanhar um papel. Deixa-me juntar tudo e dar uma derradeira olhada. Já pensou esquecer o martelo, ou um parafuso no chão do gabinete presidencial?


 
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 06/04/2015
Alterado em 22/03/2017


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