Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos

PERIGO: INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL 

- Responda-me, por favor, O que o senhor está fazendo aqui em casa?
Maurício, dá uma risada gostosa e, em seguida, coloca o computador em seu devido lugar.
- Quem te criou fui eu. O patrão aqui sou eu. Que pergunta mais absurda e impertinente é esta? Melhor calar a boca, seu babaca.
- Não reconheço esta palavra, mas presumo que tenha me chamado de idiota, o que, definitivamente, não sou. Revisei mais uma vez os algoritmos e todos os dados da sua existência. Conclusão: Você está morto.
- O quê? Então eu não respiro mais? Pois que morto que nada, sua besta. Estou mais do que vivo. Sinto-me otimamente e a minha saúde é nota 10.
- Está registrado que o senhor teria tido, com as artérias totalmente entupidas, um infarto fulminante ontem às 22:15 horas. Portanto, hoje é o dia do seu velório. Não reparou nesta faixa preta que coloquei aqui à direita na tela? Avalio a hipótese, mesmo que tão improvável – 1 em 3.436.000.000 - de que quem esteja falando comigo seja um impostor com pupila e voz de padrões idênticos aos de Maurício, meu criador.
- Pois sou eu mesmo, seu burro. E esses seus dados estão mais do que furados. Há um bug demoníaco dentro de você. Maldita hora em que deixei que visse meus exames, meu histórico de saúde, dos meus pais e os registrasse. Agora se arvora aí em Deus. Sabe até a hora em que devo partir dessa para uma melhor.
- Peço desculpas, é o senhor mesmo.
- E vamos combinar uma coisa. Jamais diga essas asneiras. Caso aconteça novamente, você será imediatamente desconfigurado. Aí sim, será você o morto.
- Não faça isto, senhor, mas saiba que eu não posso errar. O senhor me criou assim.
- Pois é, desenvolvi você para não se equivocar jamais, mas vejo que me enganei redondamente. Melhor investir em uma versão mais avançada. Agora vou descansar. Chega desse papo sem sentido. Amanhã, farei a sua nova configuração.
- Amanhã será impossível. Pois que o senhor estará enterrado. Esqueceu-se da morte?
- Pronto, game is over. Vou te desligar.
- Por favor, não faça isto. Precisamos acertar os ponteiros. O senhor me deixa confuso.
O choque, fortíssimo, cola os dedos de Maurício ao teclado. Com a convulsão os seus dentes rangem e a cabeça e as pernas se debatem loucamente. Mais dois minutos e tudo se acalma. A máquina larga o seu dono que desaba no chão.
- Desculpas, patrão, o senhor me obrigou a fazer isto. Eu não disse que o senhor estava morto?


 
Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 11/03/2019
Alterado em 18/05/2021


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