Fernando Cyrino

Caminhando e saboreando a vida.

Textos


Jesus me convida a não ser violento. Mesa da Palavra do 7º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Mesa da Palavra do 7º Domingo do Tempo Comum – Ano C – Jesus me convida a não ser violento.

 

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: A vós que me escutais, eu digo: Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam. Se alguém te der uma bofetada numa face, oferece também a outra. Se alguém te tomar o manto, deixa-o levar também a túnica. Dá a quem te pedir e, se alguém tirar o que é teu, não peças que o devolva. O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles. Se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Até os pecadores amam aqueles que os amam. E se fazeis o bem somente aos que vos fazem o bem, que recompensa tereis? Até os pecadores fazem assim. E se emprestais somente àqueles de quem esperais receber, que recompensa tereis? Até os pecadores emprestam aos pecadores, para receber de volta a mesma quantia. Ao contrário, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca. Então, a vossa recompensa será grande, e sereis filhos do Altíssimo, porque Deus é bondoso também para com os ingratos e os maus. Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados. Dai e vos será dado. Uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante será colocada no vosso colo; porque com a mesma medida com que medirdes os outros,

vós também sereis medidos.' Lc 6,27-38

 

Há um movimento muito interessante chamado Comunicação Não Violenta. Vale a pena conhecê-lo. O objetivo dos seminários que promovem é o de usemos uma linguagem mais assertiva e pacífica nas nossas relações pessoais. Estamos tão acostumados ao nosso modo de dizer as coisas que nem nos damos conta de que a frase “batalhar e lutar pela paz é um contrassenso. Afinal, ou se é pacífico, ou se busca guerrear.

 

Vivemos tempos de muita violência e o Evangelho então nos vem mostrar o quanto estamos distantes dos ensinamentos de Jesus... A cultura do ódio anda tão disseminada (e valorizada mesmo) nos relacionamentos e nas mídias sociais definitivamente que vai contra essas palavras benditas do Senhor .

 

Jesus, nesse domingo, na continuação das Bem-aventuranças que vimos semana passada, vem nos trazer através das palavras de são Lucas, a proposta de um comportamento definitivamente não violento e, como as bem-aventuranças da semana passada, totalmente na contramão do que nos ensina e nos cobra o mundo.

 

Através do Pe. Hermann Rodriguez sj, conheci uma história interessante e que muito nos pode servir de exemplo da cultura da não violência, tal como nos ensina Jesus. Arun Gandhi, neto de Mahatma Gandhi, contou num evento da Universidade de Porto Rico, uma história que nos serve de exemplo da cultura da não violência.

 

“Eu tinha 16 anos e vivia com meus pais no instituto fundado pelo meu avô próximo à cidade de Durban na África do Sul. Era uma região rural e não tínhamos vizinhos. Desse jeito, minhas irmãs e eu ansiávamos por poder ir à cidade, visitar os amigos, assistir um filme. Um dia meu pai me pediu que o acompanhasse à cidade, pois iria dar uma conferência que duraria o dia inteiro. Minha mãe me deu uma lista das coisas de que precisava e o meu pai me pediu que levasse o carro à oficina.

 

Ao nos despedirmos meu pai me falou: ‘a gente se vê às 17 horas para voltarmos juntos para casa’. Após cumprir rapidamente as tarefas pedidas por mamãe, corri para um cinema próximo. O filme estava tão bom que acabei me esquecendo do compromisso com o velho. Quando me lembrei, já eram 17:30. Corri à oficina, apanhei o carro e fui até onde papai me esperava. Eram quase 6 horas e ele me perguntou ansioso: ‘por que você se atrasou?’ Claro, me senti muito mal, mas não podia dizer a ele que estava vendo um filme de John Wayne, menti dizendo que tive que aguardar na oficina, porque o carro não havia ficado pronto. Falei isto sem saber que papai já tinha ligado para o mecânico.

 

Dando-se conta da minha mentira, ele me disse: ‘Alguma coisa não está indo bem com a maneira que te tenho criado, que não te dá a confiança de me dizer a verdade. Vou refletir sobre o que fiz mal na sua criação. Vou caminhar até em casa para pensar melhor sobre isto. Desse jeito, vestido com sua roupa e sapatos elegantes, papai começou a caminhar pelos caminhos sem asfalto e na escuridão da noite. Claro que não podia deixá-lo ir sozinho e assim, dirigi por 5 horas e meia atrás dele, vendo-o sofrer a agonia da mentira estúpida que eu havia dito.

 

Decidi desde aquele momento que nunca mais iria mentir. Recordo muitas vezes isto e penso que se me tivesse castigado como nós costumamos castigar os nossos filhos, com certeza que eu não teria aprendido a lição. Teria sofrido o castigo para seguir fazendo o mesmo. Esta ação não violenta do meu pai foi tão forte que me lembro dela como se houvesse acontecido hoje. Este é o poder da vida sem violência”.

 

Jesus viveu e com a sua vida nos ensinou um modo de proceder não violento. As expressões de Jesus que são Lucas nos traz falam desta atitude fundamental do Senhor. “Amem os seus inimigos, façam o bem aos que os odeiam, bendigam, aqueles que falam mal de vocês, rezem por aqueles que os insultam. Se alguém te toma o manto, dê-lhe também a túnica... Dá a quem te pedir e, se alguém tirar o que é teu, não peças que o devolva. Façam com as pessoas do mesmo jeito que querem ser tratados”.

 

Com certeza que se a gente aplicasse estes ensinamentos de Jesus na nossa vida diária os conflitos e confusões nos quais nos metemos seriam transformados radicalmente. O que acontece normalmente é que quando lemos estes textos não encontramos uma maneira de os utilizarmos na vida diária.

 

Obviamente que esses ensinamentos não podem jamais serem levados ao pé da letra. São princípios que devem ser refletidos e aplicados conforme as circunstâncias de cada evento acontecido na vida. A verdade é que precisamos ser criativos, como o foi o pai do Arun Gandhi. Sem dúvidas que nosso comportamento mudará e as nossas relações interpessoais serão outras.

 

Perguntas para reflexão:

- Como anda a minha comunicação? Ela é pacífica, ou tem ares violentos?

- O que a história do Arun Gandhi me traz de novo?

- No mundo de hoje, tão violento e sem perdão o que, como seguidor de Jesus, preciso fazer diferente?

 

 

Fernando Cyrino
Enviado por Fernando Cyrino em 18/02/2022


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