A vocação do leigo em tempos de Sínodo
Na Igreja Povo de Deus, expressão bíblica resgatada pelo Concílio Vaticano II e que precisa ser mais aprofundada por todos nós, precisamos tomar essa consciência: todos somos vocacionados. Ser cristão é seguir Jesus Cristo e só se pode segui-lo verdadeiramente tomando consciência da sua vocação, do seu chamado ao seguimento...
Quero lhes propor nesse mês vocacional três breves reflexões sobre o tema:
1 – Na Igreja Povo de Deus somos leigos. Nossa vocação passa por essa situação. Até muito pouco tempo atrás a explicação do que significa ser leigo era dado pela negativa. Ou seja, dizia-se (até em documentos oficiais da Igreja) que “leigo era aquele que não era consagrado, que não fazia parte da hierarquia”. Que tristeza, que pobreza de definição. Ora, a gente, os leigos somos muito mais do que isto. Durante mais de um milênio fomos considerados assim, seguidores que não possuíam nem voz e muito menos vez na Igreja. E temos muita culpa nisso. A gente, enquanto leigo, não se leva muito a sério. Reparem que a gente não se valoriza como deveria. Nós, os leigos, acabamos por nos acomodar. Afinal, seguir, obedecer, balançar a cabeça simplesmente, é mais simples, é mais fácil. Deixa-nos acomodados, quietos dentro da nossa zona de conforto. Alguém tem dúvidas de que a gente precisa se valorizar mais?
2 – Karl Rahner, um grande teólogo do Século passado, dizia algo instigante sobre nós os leigos: Ele considerava que o Século XXI seria o século dos leigos. Bem, temos já passados 22 anos nesse novo século e com certeza que temos muito pouco a celebrar no fato da realização dessa profecia de ser esse o nosso Século... Mas há algo novo. Há uma luz brilhando nessa estrada... A luz, essa novidade da valorização laical está no Papa Francisco a nos propor (enquanto paróquia participamos dele dois anos atrás, dizendo o que achávamos que precisávamos ter na Igreja) o Sínodo da Sinodalidade. Ou seja, o sínodo sobre o sínodo. Um meta sínodo a gente poderia dizer, não é mesmo? Esse Sínodo, que por muitos é visto como novidade, nada mais é do que a Tradição da nossa Igreja. Ao ler os Evangelhos, ao acompanhar Jesus pelos caminhos, ao refletir sobre o Novo Testamento em Lucas nos Atos dos Apóstolos, em Paulo, escrevendo às comunidades que formava, ao ler os Padres da Igreja, veremos o retrato de uma Igreja sinodal. Uma Igreja em que todos participavam. Uma Igreja aberta e acolhedora. Uma Igreja Povo de Deus, ou seja, uma Igreja em saída, do jeito que o Papa tanto tem falado. Isto é ser uma Igreja Sinodal, na qual a Hierarquia é servidora, se faz ministra e ao nos aprofundarmos na raiz dessa palavra encontraremos as palavras mínimo, menor. Ou seja, os ministros da Igreja devem ser os seus servidores, devem ser pequenos. Ah, esse sentido foi mudando e durante vários séculos e a Igreja poder se fez predominante. O ministro, numa inversão de papeis, passou a ser o grande, o que é servido... Hora de voltarmos ao seu verdadeiro sentido.
3 – Você contrataria um leigo para construir sua casa? Ao ter um problema de saúde você buscaria um leigo para cuidar de você? Vejam como a palavra leigo tem hoje um sentido bastante negativo. Acho que posso dizer até pejorativo. Indo à raiz dessa expressão, vamos encontrar em grego a expressão laïkós, e em latim laicus, palavras que derivam do grego laós, que quer dizer “povo”. Ou seja, não tinha essa conotação negativa de ignorante, aquele que não sabe nada. Notem que quando nos perguntam se a gente sabe algo que não domina, costumamos dizer que “somos leigos no assunto”. Precisamos parar com isto, para que o Século XXI seja verdadeiramente o nosso Século. Parar com isto é conhecer mais a nossa fé, estudar, refletir... Todos temos uma profissão e nos aprofundamos nela. Se não fizermos isto ficaremos para trás, seremos incompetentes, não arrumaremos empregos bons, não é mesmo? Não tenho dúvidas de que você evitará ir a um médico que não se atualiza. Nós leigos também precisamos nos atualizar, nos aprofundar.
Que tal utilizarmos esse tempo sinodal para tomar uma nova atitude e valorizarmos mais a nossa vocação laical?